LUIZ LEITÃO - NITERÓI - RJ
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ANTOLOGIA DE POETAS FLUMINENSES,
uma das mais antigas referencias à poesia fluminense;
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VIDA APERTADA,
a única obra de Luiz Leitão de que tenho notícias.
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Mas a minha melhor referência sobre ele, vem de um livro de sonetos burlescos, de autoria de Alfredo Silva, intitulado SONETOS BURLESCOS, aonde o autor agradece a Luiz Leitão pelo longo aprendizado em estilística burlesca com os seus sonetos e cita como sendo " o mais belo soneto burlesco do nosso idioma" , este a seguir:
O CARALHO
CARALHO, PAI DE TODOS OS MORTAIS,
CONSOLADOR DE POMBAS E BOCETAS,
ALMA DOS CUS E CORAÇÃO DAS GRETAS
E ARRIMO DE TODOS OS CASAIS.
PROCURA TRATAR BEM ESSE RAPAZ,
COM ESSE MOÇO, AMIGO, NÃO TE METAS,
PORQUE NA HORA DAS CAGADAS PRETAS
NÃO HÁ TABACA QUE ELE DEIXE EM PAZ.
NOS DOMINGOS E DIAS FERIADOS,
DIAS DE FODAS DE CULHÕES PUXADOS,
FOI COM QUEM TUA MÃE SEMPRE SE VIU.
COM ESSE CARA, POIS, EU NÃO ME METO,
ELE É MEU PAI, TEU PAI, PAI DO SONETO
E PAI TAMBÉM DA PUTA-QUE-O-PARIU.
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Seguem duas fontes..
1 - http://versoeconversa.blogspot.com.br/2014/06/luis-leitao-ponto.html
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2 - http://youpode.com.br/blog/todapalavra/2009/09/16/vida-apertada-tem-lancamento-sabado-na-bienal/#more-278
e o artigo do Escritor passofundense Paulo Monteiro...
Lili Leitão: "o maior satírico fluminense"
Artigo de Paulo Monteiro
Lili Leitão é o nome literário pelo qual ficou conhecido o poeta niteroiense Luiz Gondim Leitão, nascido em 25 de janeiro de 1890 e falecido no dia 14de junho de 1936. Foi jornalista e funcionário municipal em sua cidade, onde chegou a editar um curioso jornal carnavalesco intitulado "O Almofadinha".
Participou da roda literária do Café paris, ao lado de outros poetas como Nestor Tangerini, Anísio Monteiro, Luis Pistarini, Mazini Rubano, Armando Gonçalves, Olavo Bastos, Benjamin Costa e René Descartes de Medeiros, hoje praticamente esquecidos, pois ficaram fora do cânone literário do próprio Estado do Rio de Janeiro.
Segundo o pesquisador Luis Antônio Pimentel Lili Leitão realizou estudos preparatórios para cursar uma das faculdades do Rio de Janeiro, o que não conseguiu fazer. Começou a divulgar seus trabalhos em diversos periódicos. Em 1911 começou a trabalhar na Prefeitura Municipal de Niterói, onde se aposentou por invalidez, em 4 de abril de 1936 Faleceria tuberculoso pouco mais de dois meses depois de aposentado.
Como todos os poetas satíricos e humorísticos foi um perdulário. Escreveu e improvisou muitos poemas, mas poucos chegara até nossos dias. Em vida publico apenas três livros. O primeiro deles intitulado "Sonetos", pela livraria Jacintho Silva, no ano de 1913, em parceria com o poeta Sylvio Figueiredo. Em 1926 publicou uma plaqueta, sob o título de "Vida apertada", com 32 sonetos humorísticos, pela Casa Capanema. Este livro saiu, recentemente em segunda edição pela Nitpress. Editou, ainda o livro "Comida Brava", com "sonetos pornográficos", em edição limitadíssima, segundo testemunhos sérios.
Como todos os poetas satíricos e humorísticos a obra de Lili Leitão é uma obra de circunstância. Ao contrário dos demais gêneros poéticos, que procuram transformar o particular em universal, a poesia satírica e a poesia humorística transformam o universal em particular, ao concentrarem o ridículo e o grotesco de todas as coisas e pessoas em uma única coisa o pessoa. Essa inversão lógica da Arte Poética é que torna os poetas satíricos e humorísticos, via de regra, condenados à efemeridade e contribui, também, para que os poetas da Belle Époque, em geral, e do grupo niteroiense do Café Paris, em particular, obtivessem difícil recepção no cânone literário do seu tempo.
No caso dos poetas do Café Paris outros fatores podem ter contribuído para que não fossem inseridos entre os mais reconhecidos poetas do seu Estado. A começar por um boicote praticado contra eles pela chamada "grande crítica" brasileira, que se concentrava na então Capital da República. E no centro desse isolamento estariam, com certeza, a disputa por empregos públicos e a carteira de anúncios, visto que todos, nas cidades do Rio de Janeiro e Niterói, eram jornalistas.
Transcrevo do exemplar de "Vida Apertada [Sonetos]", com que gentilmente me presenteou o amigo Nelson Tangerini, alguns sonetos de Lili Leitão.
Eu
Luiz Leitão
Nasci em Niterói, lugar ordeiro,
Terra de Araribóia, santa e benta,
No dia vinte e cinco de janeiro
Do ano mil oitocentos e noventa.
Não sou moço, pois vou para o quarenta;
Também não sou nenhum velho cangueiro.
Vivo da pena, minha ferramenta:
Sou poeta, burocrata e "revisteiro".
Rabichos, tive um só, pela Chiquinha;
Dinheiro, tenho visto uma porção,
Na algibeira dos outros, não na minha.
E, assim, lutando, sem tombar de borco,
Hei de ser sempre o mesmo Luiz Leitão,
Leitão que nunca há de chegar a porco...
TREZE
Luiz Leitão
O treze é um caso sério, meus senhores!
É o grande "peso" da população:
O maior malfeitor dos malfeitores,
A "urucubaca" da numeração.
Para mais aumentar os seus horrores,
Pragueja esta infernal superstição:
Da mesa, a que houver treze comedores,
O mais "pesado" vai para o caixão...
Morre... De fato, foi o que se deu
Numa ceia supimpa, colossal,
Em que champanha "à beça" se bebeu.
Éramos treze ao todo, a conta feita;
Doze, porém, rasparam-se, e, afinal,
O "pesado" fui eu - "morri" na ceia...
O exemplar, que Nelson Tangerini me enviou, veio acompanhado de uma segunda parte ou volume sob o título de "SONETOS SATÍRICOS", onde constam outras sátiras de Lili Letão, com esta:
NÃO
Luiz Leitão
Desde que ao mundo fui arremessado
Meu destino é igual de Sul a Norte;
Um "Não", somente um "Não" tenho encontrado,
"Não" no amor, "Não" na gaita, "Não" na sorte.
E assim venho vivendo amargurado,
Maldizendo a vida e bendizendo a morte;
Nascer foi das asneiras a mais forte
Que involuntariamente hei praticado.
Entretanto, esse "Não" que não me deixa,
Essa constante e eterna negativa,
A direta razão da minha queixa,
Esse "Não" que da mente não me sai,
É consequência de uma afirmativa,
De um "Sim" que minha mãe deu a meu pai.
É bom lembrar que, ao fim e o cabo, Lili Leitão e seus demais companheiros do Café Paris se inseriam perfeitamente na escola dominante da época: o Parnasianismo. E, para ser mais preciso, no chamado Neoparnasianismo. E mais: não eram melhores nem piores, se é que se pode empregar algum tipo de juízo de valor para a obra de arte do que os seus contemporâneos, que sobreviveram para os compêndios e manuais de história literária.
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