PEDRO MILITÃO KUILKUERRY,
NASCIDO EM SALVADOR - BA, A 10 DE MARÇO DE 1885,
FALECE DE TRAQUEOTOMIA EM 25 DE MARÇO DE 1917.
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PEDRO KILKERRY,
como passou a assinar os seus trabalhos literários, é um poeta notável no seus caracteres estilísticos. A academia o qualifica como simbolista, mas independente de que o seja ou não, a sua poesia tem marca própria, e não um chorrilho de seguidismos. Sua produção vai do soneto com preciosidades estéticas, como o abaixo, passando pela crônica, contos, novelas até às sátiras, onde ele se solta e brinca de roda com os versos.
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AD VENERIS LACRIMAS
Em meus nervos, a arder, a alma é volúpia... Sinto
que Amor embriaga a Íon e a pele de ouro. Estua,
deita-se Íon: enrodilha a cauda o meu instinto
aos seus rosados pés... Nyx se arrasta, na rua...
Canta a alâmpada brônzea? O ouvido aos sons extinto
acorda e ouço a voz ou da alâmpada ou sua.
O silêncio anda à escuta. Abre um luar de Corinto
aqui dentro a lamber Hélada nua, nua.
Íon treme estremece. Adora o ritmo louro
da áurea chama, a estorcer os gestos com que crava
finas frechas de luz na cúpula aquecida...
Querem cantar de Íon os dois seios, em coro...
mas sua alma - por Zeus! - na água azul doutra Vida
lava os meus sonhos, treme em seus olhos, escrava.
SÁTIRAS
I
No livro negro da vida,
a mão do diabo escreveu:
- Não subirás a descida...
e tu subiste, sandeu!
II
Quando eu nascia
tocava fogo em minha freguesia.
Um barbeiro, meu vizinho,
cortava a veia ao pescoço
porque no bicho perdia.
Quando eu nascia...
III
Crias-te vivo e eras sombra...
de alguém que tivesse vivido
de um peido dado de forma
que me afetasse o sentido.
Poliformismo de gases,
amigos! Peidos! rapazes!
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