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LOBIVAR MATOS
(1915-1947)
Poeta quase desconhecido mas em fase de redescobrimento e estudo em seu estado de origem – o Mato Grosso do Sul, foi um fenômeno. Escreveu seus livros Areôtare e Sarobá, antes dos 20 anos de idade, na vanguarda de nosso Modernismo. É possível ver nele as influências de Manuel Bandeira e de Raul Bopp mas sua lavra é muito original. Usa o coloquialismo brasileiro com naturalidade. Seu versilibrismo é original, com acentuada cor telúrica, regional, às vezes de forma ingênua, mas militante pela denúncia das mazelas e das precariedades da vida das populações ribeirinhas na zona fronteiriça de Corumbá.
Observação importante: mantivemos a ortografia original de suas obras.
Antonio Miranda
Os trilhos velhos estão sendo trocados
por trilhos novos.
E os bondes enfileirados
andam devagar.
Os passageiros estão inquietos.
Alguns não se conformam
e descem apressados, praguejando.
Outros procuram distração
nas entrelinhas dos jornais.
Meus olhos grudaram nos gestos fortes
dos homens feios,
e eu, intimamente, justifico,
achei natural o atraso dos bondes
e a troca dos trilhos velhos...
É verdade – me disse o moço sujo da esquina –
quando menino, toda vez que tropeçava e caía
sempre encontrava alguém para me levantar.
- Levanta, batuta, para cair outra vez!
Agora, que sou farrapo de homem,
que queria ser homem,
que já tropecei por este mundo a fóra,
que já cansei de ficar no chão,
não encontro ninguem que me tire da sargeta.
Pelo contrario, parece, ninguem me quer ver de pé.
Passam e jogam níqueis no meu chapéu furado.
Esses idiotas pensam que me fazem bem,
que pagam uma prestação do céu,
e que a esmola que me atiram,
humilhados e humilhantes,
me serve para alguma coisa.
- Idiotas! Imbecis! Criminosos!
Na sala enorme e colorida
do meu cerebro,
lembranças vagas
de mulheres vivas
dansam numa ginga mole.
bamas,
sambas
e cateretês.
Aquelas chaminés continuarão a vomitar destinos?
Aquelas máquinas continuarão a ceifar corpos robustos?
Aqueles mil braços erguidos
continuarão a produzir e a definhar?
Quando sinto vontade de ver santos
nunca entre em igreja.
Sento-me num banco de praça,
na boquinha da noite,
e fico namorando os desgraçados
encolhidos na escadaria da igreja.
Negro tá com morrinha,
tá com o diabo no couro
e não provoca, não, cabra safado,
porque do contrario vai haver banzé de cuia,
forrobodó.
Em casa a negra velha tá fula de raiva,
já andou dando sopapos no marido,
espremendo os moleques
e xingando a vizinha,
que não lhe quer emprestar
um pires de farinha.
Não mexe com o negro, não, negrada.
Ele está acuado e não quer prosa, não.
Negro entra no boliche,
pede fiado um “mata-bicho”
e senta na calçada, cuspindo:
- Porcaria de vida...
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SAROBÁ
Bairro de negros,
negros descalços, camisa riscada,
beiçolas caídas,
cabelo carapinhé,
negras carnudas rebolando as curvas,
bebendo cachaça;
negrinhos sugando as mamas murchas das negras,
negrinhos correndo doidos dentro do mato,
chorando de fome.
Bairro de negros,
casinhas de lata
água na bica ingando, escorrendo, fazendo lama,
roupa estendida na grama;
esteira suja no chão, duro, socado;
lampeão de querosene piscando no escuro;
negra abandonada na esteira tossindo,
e batuque chiando no terreiro;
negra tuberculosa escarrando sangue,
afogando a tosse seca no eco de uma voz mole
que se arrasta a custo
pelo ar parado.
Bairro de negros,
mulatas sapateando, parindo sombras magras,
negros gozando,
negros beijando,
negros apalpando carnes rijas;
negros pulando e estalando os dedos
em requebros descontrolados;
vozes roucas gritando sambas malucos
e sons esquisitos agarrando
e se enroscando nos nervos dos negros.
Bairros de negros,
chinfrim, bagunça,
Sarobá.
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FONTES:
1 - http://www.antoniomiranda.com.br/Brasilsempre/lobivar_matos.html ;
2 - http://www.lobivarmatos.com/#!portflio/csan ;
3 - http://www.lobivarmatos.com/ ;
4 - http://psicoterapiaepoesia.blogspot.com.br/2009/06/meu-avo-lobivar-matos.html
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